segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fé e Ciência - III


* Rezar reduz risco da doença de Alzheimer, 

afirmam cientistas.



Um grupo de cientistas dos Estados Unidos e de Israel concluíram que rezar regularmente pode reduzir, no caso das mulheres, até em 50 por cento o risco de sofrer a doença de Alzheimer.

Os resultados, expostos em junho na Universidade de Tel Aviv (Israel), apontaram que a oração influi de forma notavelmente positiva no cérebro.
Segundo o professor Rivka Inzelberg, que encabeçou o estudo, “a oração é um costume no qual se utiliza o pensamento, e a atividade intelectual ocasionada poderia constituir uma medida de prevenção contra a doença”.

“Qualquer trabalho intelectual influi positivamente ao trabalho do cérebro”, assinalou o cientista.

A investigação experimentou dificuldades ao determinar a relação entre a oração e o Alzheimer entre homens, já que 90 por cento dos homens asseguraram rezar diariamente, o que impossibilitou ter uma amostra adequada.

Entretanto, “entre as mulheres, só 60 por cento rezava cinco vezes ao dia, e 40 por cento não rezava regularmente, assim pudemos comparar a informação”, indicou Inzelberg.

Fonte: Zenit

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fé e Ciência - II


A ciência não tem como papel tirar Deus de ninguém e sim explicar como o mundo funciona e talvez minorar um pouco o sofrimento humano.

Jornal Zero Hora.
Numa época em que cientistas de renome como Richard Dawkins e Sam Harris se dedicam a ampliar o fosso entre ciência e religião, o brasileiro Marcelo Gleiser assume a delicada tarefa de estender pontes entre os dois lados. Graduado em física pela PUC do Rio e doutorado em física teórica pelo King’s College, de Londres, esse carioca de 53 anos acredita que o entendimento entre as partes é o caminho natural.
Radicado nos Estados Unidos – desde 1991 é professor do Dartmouth College, uma das mais renomadas universidades americanas – , onde o fundamentalismo cristão desempenha um papel político de primeira grandeza, Gleiser sabe que nem sempre é possível evitar choques. Ele se opõe com vigor às tentativas de setores religiosos de definir a agenda científica. Discorda, porém, daqueles que, do alto das cátedras e dos fundos públicos e privados de financiamento à pesquisa, pretendem vingar Adão e expulsar o Criador do Paraíso do conhecimento.
Quando se discute a relação entre ciência e religião no universo acadêmico, o polo religioso é sempre o mais frágil. Nos últimos 50 anos, porém, a posição da ciência tem sido muito questionada. Como o senhor vê hoje a posição da ciência diante da religião?


Não existe uma posição da ciência em relação à religião. Existem posições de cientistas em relação à religião, e essas posições são muito diferenciadas. Num extremo, você tem os novos ateístas, como Richard DawkinsDaniel Dennett e outros, que acham que ser religioso é ser louco ou estar completamente iludido em relação ao real. Eles fazem um ataque bastante agressivo em relação à fé.
No outro extremo, você tem cientistas que são perfeitamente religiosos e veem em seu esforço científico uma aproximação com Deus, se forem judeus, cristãos ou muçulmanos, ou com uma espiritualidade que pode ser budista, hinduísta etc. Para eles, quanto mais aprendem sobre o universo e a natureza, mais se aproximam de Deus.
Entre essas duas posições extremas, você tem uma porção de outras posições. No meu caso, vejo essa cruzada antirreligiosa que certos cientistas estão fazendo como uma completa perda de tempo, que não vai levar a nada e ignora o papel essencial que a religião tem na sociedade e em nossa cultura. As pessoas sabem muito pouco sobre história, filosofia e menos ainda sobre o espírito humano para entender o quanto a fé é importante na vida das pessoasÉ muita presunção de certos cientistas achar que a ciência pode, dentro da posição dela, acabar com o papel da religião na vida das pessoas. Isso é um absurdo, por vários motivos. Entre eles, e é algo que vai ser assunto do meu próximo livro e vou abordar na minha conferência, o fato de que a ciência também tem limitações na sua concepção e no seu funcionamento.


Quais seriam essas limitações?

Certos cientistas que escrevem para o público, como Stephen HawkingBryan Greene e outros, ficam tão empolgados com certas ideias científicas que esquecem de onde elas vêm e quais são seus limites filosóficos e metafísicos. Existe muita distorção sobre o que a ciência pode fazer e já fez quanto à explicação de questões fundamentais, também tocadas pela religião, como a origem do universo, da vida e da mente. Dizer que a ciência entende a origem do universo é uma grande bobagem. A ciência tem teorias que explicam uma porção de coisas maravilhosas sobre o universo, e todos devemos ter muito orgulho delas. Mas a gente ainda não entende a origem do universo, e eu, particularmente, nem sei se a gente conseguiria, dentro do processo científico, entender.

Os EUA, onde o senhor está radicado, assistem à tentativa de interferência de setores religiosos na pesquisa e no ensino de matérias científicas. Como vê esse fenômeno?

Aqui, essa questão, infelizmente, é muito politizada, e não deveria ser. Principalmente durante o governo George W. Bush, quando a direita religiosa foi ao poder, houve várias medidas que interferiam na liberdade de pesquisa científica. Isso causou indignação na maior parte da comunidade acadêmica, que não aceita interferência religiosa na pesquisa científica. Quando isso acontece, parece que estamos voltando ao início do século XVII.Por outro lado, é óbvio que a pesquisa científica sempre tem um aspecto moral que não podemos deixar de lado. Temos de pensar sobre as implicações sociais, culturais e morais da pesquisa científica, e isso é verdade tanto no mundo da engenharia nuclear quanto no da engenharia genética. A questão da clonagem de humanos, que é extremamente complexa, desperta contrariedade na maioria absoluta da comunidade científica. Não existe nenhum uso médico disso. Se você quer ter filhos, há outros procedimentos e você não vai querer ter um filho que tenha o código genético igual ao seu.

Como deveria ser fundamentada a convivência entre fé e ciência?
As fronteiras têm de ser respeitadas. O problema se inicia quando a religião começa a se meter no processo científico. Quando conselhos educacionais resolvem que não se pode mais ensinar a teoria da evolução de Darwin porque não é religiosa ou quando o Estado, controlado por interesses religiosos, decide interferir nos fundos de pesquisa científica básica porque afetam algum princípio religioso. Quando a religião interfere em algum aspecto do conhecimento, ela está andando para trás e não fazendo o papel importante que pode fazer na vida das pessoas. Por outro lado, quando a ciência faz pronunciamentos grandiosos do tipo “Deus não é mais necessário porque já entendemos tudo sobre o universo”, está abusando do que realmente sabe para fazer uma propaganda indevida. Essa coexistência tem de ser de respeito mútuo. Os cientistas têm de entender que existem 4 bilhões de pessoas no mundo que acreditam em alguma forma de Deus. A ciência não tem como papel tirar Deus de ninguém, e sim explicar como o mundo funciona e talvez minorar um pouco o sofrimento humano. Nesse quadro, as coisas poderiam funcionar bem. Isso prescinde uma separação da Igreja e do Estado, obviamente. A minha cruzada é mostrar que é uma perda de tempo os cientistas acharem que vão convencer as pessoas de que elas não precisam de religião. A religião atua em esferas além da ciência. Se morre alguém querido para você, você vai buscar consolo na sua família, no seu padre, no seu rabino ou seja lá em quem for. A religião oferece um sentido de comunidade, de pertencer, que é um grande antídoto contra a solidão humana. Nesse sentido, ela é extremamente importante
Como o senhor vê a situação da pesquisa científica no mundo contemporâneo?
A pesquisa científica é um dos maiores motivos de orgulho que a humanidade tem. Isso sempre foi verdade, desde que a ciência moderna começou, há 400 anos, e continua sendo. O discurso pós-moderno, da subjetividade, de que não existem verdades, tem de ser tomado com muito cuidado. É claro que a ciência está sempre avançando. Conceitos científicos são renovados e reformados, e é justamente essa a beleza da ciência, de estar sempre se reinventando a partir de uma compreensão cada vez maior do mundo.
O que seria o lado mau da ciência e o que seria possível fazer para, se não anulá-lo, pelo menos controlá-lo?


O lado mau não vem da ciência, mas do caráter humano. Quando se fala do bem ou mal da ciência ou de a ciência ter feito mal à humanidade, é preciso lembrar que a ciência não fez bem nem mal. A ciência é um corpo de conhecimento que descreve como funciona a natureza. A escolha moral de como vamos usar esse conhecimento vem dos homens. São as pessoas que fazem escolhas e podem usar a radiação nuclear tanto para curar um câncer quanto para construir bombas. Esse lado de sombra ou luz da ciência é do ser humano, que também usa a religião para o bem ou para o mal. Essa escolha tem a ver mais com a natureza do ser humano do que com a da ciência. O que a comunidade científica pode fazer é tentar trazer esse discurso das implicações éticas e morais da ciência para a sociedade. E acho que isso acontece. Existe uma mobilização das comunidades científicas no Brasil e no mundo para que sejam debatidos os usos e abusos da ciência. E, de uma certa forma, isso está acontecendo. As guerras químicas e biológicas estão proibidas. O controle do armamento nuclear envolve uma porção de cientistas e tem algum sucesso. Pelo menos não temos nenhuma guerra nuclear desde 1945